Lutas clandestinas entre adolescentes em Boa Vista eram anunciadas nas redes sociais: 'Sem levar para o coração'

 


As lutas clandestinas que aconteciam entre adolescentes em Boa Vista eram anunciadas nas redes sociais com a frase "sem levar para o coração". As "rinhas" aconteciam em uma praça da capital, eram transmitidas nas redes sociais e valiam aposta em dinheiro. Dois suspeitos de promover os encontros estão presos.

A expressão, usada para indicar que alguém não deve levar algo para o lado pessoal ou se magoar, foi encontrada em pelos menos dez publicações feitas em um perfil no Instagram dedicado às brigas clandestinas. O caso é investigado pela Polícia Civil e acompanhado pelo Ministério Público.

As publicações exibiam fotos, o primeiro nome ou apelido dos "lutadores", além das datas e o local dos confrontos, que aconteciam em uma praça do bairro Doutor Airton Rocha, na zona oeste da cidade. A estrutura dos anúncios ainda contava com a frase "hoje tem combate!".


O esquema foi alvo da Operação Final Fight, deflagrada pela Polícia Civil, que prendeu dois suspeitos de promover os confrontos. Ele foi descoberto após a Delegacia de Defesa da Infância e da Juventude (DDIJ) identificar páginas nas redes sociais criadas para divulgar as lutas e atrair as vítimas para festas ilegais.

As lutas também funcionavam com apostas que custavam em média R$ 50, mas haviam lutas nos valores de R$ 30 e R$ 100, estabelecidos de acordo com a luta, dia e até a plateia. As investigações ainda identificaram que uma adolescente, de 13 anos, chegou a ser oferecida como "prêmio".

De acordo com o delegado titular da DDIJ, Leonardo Strunz, as lutas clandestinas entre adolescentes e crianças fazem parte de um "fenômeno inédito" no Brasil e têm crescido em vários estados. No ano passado, um garoto foi espancado e ficou desacordado durante uma luta ilegal em Goiás.

"Esse foi um fenômeno inédito que surgiu no Brasil, que a gente viu de forma pioneira, que está se crescendo as lutas clandestinas. No Brasil inteiro vem crescendo essas lutas e a gente atua de uma forma preventiva pra que o pior não venha acontecer. Então, a gente observou [lutas] em vários estados com consequências negativas, com crianças ficando paraplégicas, morrendo... Então, a gente atua de forma pra inibir essas condutas", explicou o delegado.

As vítimas envolvidas nas lutas em Roraima tinham entre 12 e 17 anos. Elas eram cooptadas por meio das redes sociais e de forma presencial na região onde os "combates" aconteciam. De acordo com a polícia, alguns pais sabiam.

"Alguns pais não sabiam da existência dos filhos, outros até sabiam. Então, a situação foi até delicada para gente atuar. Estamos tratando as crianças e os adolescentes como vítimas, não como infratores, são vítimas de uma exploração, exploração das imagens deles, teve uma exploração sexual também", afirmou Strunz.

Lutas clandestinas ocorriam em praças e envolvia meninos e meninas — Foto: Arquivo pessoal

Lutas clandestinas ocorriam em praças e envolvia meninos e meninas — Foto: Arquivo pessoal


Operação Final Fight
A operação foi deflagrada no dia 25 de julho e prendeu dois homens, de 20 e 31 anos, suspeitos de promover os eventos. Durante as buscas, uma menina de 13 anos foi encontrada na casa do investigado mais jovem.

A polícia identificou que ele mantinha um relacionamento com a adolescente, o que se classifica como violência sexual. Ele também foi preso em flagrante por estupro e a adolescente foi entregue à mãe.


A Polícia Civil também cumpriu mandados de busca e apreensão na casa dos suspeitos, localizada no bairro Dr, Airton Rocha. As ordens judiciais foram executadas por agentes da Seção de Investigação e Operações (Siop) da DDIJ, com apoio do Grupo Tático Municipal (GTAM) da Guarda Civil Municipal.

Durante as buscas, celulares e dispositivos de armazenamento dos suspeitos foram apreendidos. O material deve passar por perícia e revelar novas evidências, suspeitos e crimes conexos.

A operação recebeu o nome Final Fight em alusão ao clássico jogo eletrônico dos anos 1990, sobre brigas de rua, remetendo simbolicamente à intenção de pôr a prática que vinha ganhando espaço na capital.
Operação Final Fight foi deflagrada nessa quarta-feira (25) em Boa Vista (RR). — Foto: Polícia Civil de Roraima/Divulgação

Operação Final Fight foi deflagrada nessa quarta-feira (25) em Boa Vista (RR). — Foto: Polícia Civil de Roraima/Divulgação

FONTE G1

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