‘Mão Morta’: a arma nuclear ‘apocalíptica’ da Rússia que levou os EUA a movimentar submarinos

 


Na madrugada desta sexta‑feira, 1º de agosto de 2025, o ex‑presidente russo Dmitry Medvedev, hoje vice‑presidente do Conselho de Segurança da Federação Russa, fez uma publicação alarmante em sua conta no Telegram. Ele advertiu que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deveria recordar “o quão perigosa a lendária ‘Mão Morta’ pode ser”. A referência foi direta a um dos sistemas de retaliação nuclear mais temidos do mundo, criado na época soviética e que até hoje desperta temores sobre a destruição nuclear automática em caso de ataque ao comando russo.

Poucas horas depois dessa mensagem, Trump usou sua própria rede social, Truth Social, para anunciar que havia ordenado o reposicionamento de dois submarinos nucleares dos EUA em “regiões apropriadas”, em resposta direta às declarações do político russo. O gesto foi interpretado por analistas como uma forma de mostrar força e advertir Moscou a respeito das consequências de retóricas tão agressivas.

O que é a ‘Mão Morta’?

A chamada “Mão Morta”, cujo nome técnico é Perímetr, é um sistema de retaliação nuclear automática construído pela União Soviética e mantido pela Rússia desde 1985. Sua função é extremamente clara: garantir que, mesmo que um ataque destrua todo o alto comando militar e político russo, as forças nucleares do país ainda sejam capazes de lançar uma resposta massiva contra o inimigo.

A lógica por trás do Perímetr é baseada no conceito de destruição mútua assegurada: se não houver mais comunicação entre os comandantes militares e os silos de mísseis, isso significa que Moscou provavelmente foi atingida por um ataque nuclear devastador. Nesse caso, sensores automáticos e postos de comando subterrâneos têm autorização para iniciar, por conta própria, o disparo de centenas de ogivas nucleares contra múltiplos alvos no planeta.

Segundo estimativas, a Rússia possui cerca de 700 ogivas nucleares, capazes de causar destruição global. A simples existência da “Mão Morta” serve como dissuasão: um agressor potencial precisa considerar que, mesmo conseguindo destruir Moscou em um ataque-surpresa, a retaliação será automática e inevitável.

O sistema permanece envolto em segredos, mas sabe-se que foi modernizado ao longo dos anos, incluindo atualizações eletrônicas e adaptações para responder a novas ameaças, como ataques cibernéticos e mísseis hipersônicos.

Por que Medvedev citou o sistema agora?

O comentário de Medvedev surgiu num momento de tensão diplomática crescente entre Rússia e Estados Unidos, especialmente após Donald Trump impor um ultimato ao governo russo para aceitar uma proposta de trégua no conflito na Ucrânia. Inicialmente, Trump estabeleceu um prazo de 50 dias para Moscou aceitar o acordo, mas logo reduziu esse prazo drasticamente para apenas 10 a 12 dias.

A mudança foi interpretada como uma tentativa de pressão máxima por parte de Washington. Irritado, Medvedev respondeu atacando Trump diretamente, chamando suas declarações de irresponsáveis e dizendo que esses ultimatos poderiam empurrar os dois países para uma guerra mundial. Ao ser chamado por Trump de “ex‑presidente fracassado”, Medvedev replicou dizendo que, se suas palavras causavam nervosismo nos Estados Unidos, então a Rússia estava no caminho certo.

Nesse contexto de ofensas e ameaças, Medvedev evocou o nome do sistema “Mão Morta” como um lembrete de que a Rússia dispõe de meios automáticos para garantir a destruição do adversário, mesmo que suas lideranças sejam eliminadas num eventual ataque.

A resposta americana: submarinos nucleares reposicionados

Em reação direta às palavras de Medvedev, Trump publicou na Truth Social uma mensagem dizendo ter ordenado que dois submarinos nucleares fossem posicionados em locais estratégicos, “caso essas palavras tolas e inflamadas sejam mais do que apenas isso”.

Ele escreveu ainda que “palavras são muito importantes e podem levar a consequências não intencionais”, deixando claro que considera as declarações russas perigosas o suficiente para justificar uma demonstração de força militar.

Embora os Estados Unidos mantenham submarinos nucleares permanentemente em patrulha, raramente um presidente americano divulga publicamente a movimentação dessas armas estratégicas. Isso transformou o gesto num sinal de advertência direta a Moscou e aumentou a preocupação mundial sobre uma escalada mais séria.

Especialistas reagem: gesto simbólico ou real?

Especialistas em estratégia nuclear afirmaram que a movimentação dos submarinos, embora soe como algo novo, é principalmente simbólica, pois esses submarinos já estão sempre prontos para disparar mísseis balísticos. O que mudou foi a escolha de tornar pública essa ação, numa tentativa de enviar uma mensagem política.

Críticos acusaram Trump de alimentar uma escalada perigosa ao responder a provocações com ameaças abertas de uso de armas nucleares. Analistas destacaram que a simples menção a essas armas, de ambos os lados, já representa um risco: pode levar a erros de cálculo ou interpretações equivocadas, reacendendo medos da era da Guerra Fria.

O arsenal nuclear russo além da ‘Mão Morta’

Embora o Perímetr seja a face mais conhecida do sistema de retaliação russo, Moscou conta também com outras armas estratégicas modernas que causam preocupação no Ocidente.

Entre elas está o torpedo nuclear Status‑6, também conhecido como Poseidon. Trata-se de um torpedo autônomo de propulsão nuclear, capaz de cruzar longas distâncias debaixo d’água e atingir alvos costeiros com ogivas de altíssimo poder destrutivo. Segundo informações técnicas, ele pode carregar inclusive bombas de cobalto, projetadas para gerar contaminação radioativa extrema.

Além disso, a Rússia modernizou sua tríade nuclear – que compreende mísseis balísticos intercontinentais, bombardeiros estratégicos e submarinos nucleares – garantindo múltiplas formas de retaliação mesmo diante de um ataque surpresa.

Tudo isso reforça o cenário em que a “Mão Morta” se insere: como peça final de segurança para garantir que, aconteça o que acontecer, haverá uma resposta devastadora.

A doutrina da destruição mútua assegurada

A lógica que sustenta a existência de sistemas como o Perímetr é a chamada destruição mútua assegurada, que marcou a estratégia nuclear durante toda a Guerra Fria. A ideia é simples: se os dois lados sabem que um ataque resultará na destruição total de ambos, nenhum deles se arriscará a dar o primeiro passo.

Nesse sentido, a “Mão Morta” representa o grau máximo dessa doutrina, pois elimina até mesmo a necessidade de decisão humana no momento do contra-ataque. Basta que sensores identifiquem que Moscou foi destruída ou que não haja mais contato com o comando militar central para que os mísseis sejam disparados automaticamente.

Especialistas alertam que isso torna a guerra nuclear ainda mais perigosa, pois aumenta o risco de um erro técnico ou falso alarme desencadear um apocalipse nuclear.

Trump e as negociações de paz na Ucrânia

No pano de fundo de toda essa crise está o impasse sobre a guerra na Ucrânia. Trump, mesmo depois de eleito novamente, tem dito que resolveria o conflito rapidamente, prometendo resultados em até 24 horas. No entanto, a realidade se mostrou mais complexa: a Rússia não aceita os termos propostos pelos EUA, e o tempo imposto por Trump para um acordo tem diminuído, o que eleva a tensão.

Além disso, Washington tem ameaçado aplicar tarifas de 25% a países que continuem comprando petróleo russo, incluindo aliados como a Índia e países da União Europeia. Essa pressão econômica somada às ameaças militares forma um quadro de pressão total sobre Moscou.

A escalada verbal e seus riscos

A simples troca de provocações entre Trump e Medvedev já preocupa diplomatas e analistas de segurança internacional. Quando líderes de potências nucleares recorrem publicamente a ameaças envolvendo destruição total, isso não apenas agrava o clima político, mas pode gerar instabilidade nos mercados, prejudicar negociações diplomáticas e aumentar a chance de incidentes militares.

Alguns especialistas defendem que ambos os lados voltem a conversar em canais reservados, reduzindo o uso de redes sociais para declarações tão sensíveis.

A cronologia recente dos acontecimentos

  • Trump anunciou um ultimato inicial de 50 dias para a Rússia aceitar um acordo de paz.

  • Reduziu esse prazo para 10 a 12 dias, aumentando a pressão.

  • Medvedev respondeu chamando Trump de irresponsável e citando a “Mão Morta”.

  • Trump reagiu publicamente, anunciando o reposicionamento de dois submarinos nucleares.

  • Especialistas criticaram a retórica nuclear de ambos os lados, temendo uma nova escalada.

Conclusão: retórica perigosa

A crise mais recente mostra que, quase 80 anos após o início da era nuclear, o mundo segue refém de armas capazes de destruir tudo em minutos. A “Mão Morta” permanece como um lembrete sombrio de que, mesmo sem ordens humanas, a retaliação pode acontecer automaticamente.

A esperança, segundo diplomatas, é que essas ameaças sejam apenas palavras e não passem disso. Mas quando armas tão destrutivas entram no centro do debate político, o risco de erro humano ou falha técnica preocupa todo o planeta.

Fonte G1

0 Comentários

EN DIRETO