As mãos de Yosbelin Pérez já fabricaram dezenas de milhares das chapas redondas de alumínio que as famílias venezuelanas aquecem todos os dias para preparar arepas. Ela sente um profundo orgulho em produzir o venerado budare, denominador comum entre casas rurais com telhado de zinco e apartamentos urbanos. No entanto, apesar de anos vendendo utensílios de cozinha, não possui nada em seu nome.
Pérez, na verdade, deve cerca de 5 mil dólares, pois ela e sua família nunca chegaram aos Estados Unidos, onde esperavam escapar da enraizada crise política, social e econômica da Venezuela. Agora, assim como milhares de venezuelanos que retornaram voluntária ou involuntariamente ao país neste ano, estão começando do zero, enquanto a crise se agrava.
"Quando decidi ir embora, em agosto, vendi tudo: casa, pertences, carro, tudo da minha fábrica — moldes, areia. Fiquei sem nada", disse Pérez, de 30 anos, na casa dos sogros, no oeste da Venezuela. "Chegamos ao México, ficamos lá por sete meses e, quando o presidente (Donald Trump) assumiu o poder em janeiro, eu disse: ‘Vamos!’".
Ela, o marido e os cinco filhos retornaram ao país em março.
Mais de 7,7 milhões de venezuelanos emigraram desde 2013, quando a economia dependente do petróleo entrou em colapso. A maioria se estabeleceu na América Latina e no Caribe, mas após a pandemia de COVID-19, muitos passaram a ver os Estados Unidos como a melhor oportunidade para melhorar de vida.
Nicolás Maduro, por muito tempo, se recusou a receber venezuelanos deportados, mas mudou de postura no início deste ano, sob pressão da Casa Branca. Agora, imigrantes chegam regularmente ao aeroporto próximo à capital, Caracas, em voos operados por um contratado do governo norte-americano ou pela companhia aérea estatal da Venezuela.
Muitos que regressam, como Pérez e sua família, encontram condições de vida ainda mais difíceis do que quando partiram. Uma crise monetária, inflação de três dígitos e salários baixos tornaram alimentos e outros itens básicos inacessíveis — sem falar em veículos, casas e eletrodomésticos que venderam antes de migrar. O salário mínimo mensal, de 130 bolívares (equivalente a US$ 1,02 até segunda-feira), não é reajustado desde 2022. É comum que as pessoas tenham dois, três ou mais trabalhos para conseguir alguma renda.
Esse último capítulo da crise, que já dura 12 anos, levou Maduro a declarar “emergência econômica” em abril.
David Rodríguez migrou duas vezes para a Colômbia e o Peru antes de tentar chegar aos Estados Unidos. Partiu da Venezuela no ano passado, cruzou a perigosa selva do Tapón del Darién a pé, atravessou a América Central e percorreu o México caminhando, de trem e de ônibus. Em dezembro, entregou-se às autoridades migratórias norte-americanas, mas foi detido por 15 dias e deportado para o México.
Falido, Rodríguez, de 33 anos, trabalhou como mototaxista na Cidade do México até juntar dinheiro suficiente para comprar a passagem de volta à Venezuela, em março.
“Ir para os Estados Unidos… foi um retrocesso total”, disse ele, na casa de um parente em Caracas. “Agora, não sei o que fazer, a não ser pagar minhas dívidas primeiro.”
Ele precisa pagar 50 dólares por semana pela motocicleta que comprou para trabalhar como mototaxista. Em uma boa semana, afirma, consegue ganhar 150 dólares, mas em outras, só arrecada o suficiente para quitar a parcela de 50 dólares.
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