Governo russo se pronunciou pela primeira vez nesta segunda (4) sobre posicionamento de submarinos nucleares pelo presidente dos EUA após troca de farpas com o ex-presidente russo Dmitry Medvedev.
O Kremlin fez um apelo nesta segunda-feira (4) para uma demonstração de "grande prudência" nas ameaças nucleares, na primeira manifestação sobre o posicionamento de dois submarinos nucleares pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
"Acreditamos que todos devem ser muito, muito prudentes em suas declarações sobre o tema nuclear", afirmou o porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov, durante uma entrevista coletiva.
Peskov minimizou o envio dos dois submarinos por Trump, afirmando que os veículos de guerra americanos "já estão em serviço" permanentemente, e disse que a Rússia não considerou o ato como uma escalada de tensão nuclear com os EUA. "Não desejamos ser arrastados para uma polêmica desse tipo", acrescentou.
Apesar do pedido por prudência, Peskov se esquivou de perguntas sobre se o Kremlin teria pedido maior moderação a Medvedev.
Trump anunciou o envio dos submarinos nucleares para "regiões apropriadas" na sexta-feira após troca de ameaças com o vice-presidente do Conselho de Segurança, Dmitry Medvedev, conhecido como uma figura provocadora do governo russo. Medvedev também ex-presidente da Rússia. (Leia mais abaixo)
O presidente americano não especificou exatamente para onde os submarinos foram enviados, nem explicou se eram submarinos com propulsão nuclear ou armados com ogivas atômicas. A Marinha dos EUA opera 71 submarinos com propulsão nuclear, incluindo 14 equipados com mísseis balísticos nucleares.
Donald Trump, que adotou uma postura conciliadora com seu homólogo russo Vladimir Putin após seu retorno ao poder em janeiro, expressou nas últimas semanas sua frustração e ameaçou impor novas sanções contra a Rússia caso Moscou não interrompa a ofensiva na Ucrânia.
Em meio à escalada de tensões, o enviado especial de Trump, Steve Witkoff, deve visitar a Rússia nesta semana, antes do fim do prazo dado por Trump — 8 de agosto — ao governo russo para finalizar a guerra na Ucrânia.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou no dia 1º de agosto que mobilizou dois submarinos nucleares em "regiões apropriadas", após as ameaças feitas pelo ex-presidente da Rússia Dmitry Medvedev.
Na quinta-feira (31), o russo, que é aliado de Vladimir Putin e membro do governo, disse que o norte-americano deveria lembrar que Moscou ainda possui o sistema soviético de retaliação nuclear, conhecido como "Mão Morta", com alto poder de destruição.
Em post na rede Truth Social, Trump mostrou que não gostou de ser ameaçado e informou sobre o movimento militar nas "regiões apropriadas", sem especificar, no entanto, quais são elas.
"Com base nas declarações altamente provocativas do ex-presidente russo Dmitry Medvedev, agora vice-presidente do Conselho de Segurança da Federação Russa, ordenei o posicionamento de dois submarinos nucleares nas regiões apropriadas, para o caso de essas declarações tolas e inflamatórias serem mais do que apenas isso. Palavras são muito importantes e muitas vezes podem levar a consequências indesejadas. Espero que este não seja um desses casos", afirmou.
Mais tarde, ao ser questionado por repórteres sobre a ordem, Trump disse: "Uma ameaça foi feita por um ex-presidente da Rússia, e vamos proteger nosso povo".
O "Mão Morta" é um sistema automático de disparo de mísseis nucleares desenvolvido na era soviética. Ele foi projetado para reagir caso a liderança russa seja eliminada em um ataque. O próprio governo russo já se referiu à ferramenta como uma “arma apocalíptica”.
Pouco antes de falar sobre os submarinos, Trump também lamentou as mortes de soldados na guerra entre a Rússia e a Ucrânia e voltou a pedir que os dois países cheguem a um acordo de cessar-fogo.
Na terça-feira (29), o republicano deu um prazo de 10 dias para o governo russo aceitar a proposta de 60 dias de trégua apresentada pelos EUA. Caso contrário, disse que o país e seus parceiros comerciais sofreriam sanções, com tarifas chegando até aos 100%.
"Acabei de ser informado de que quase 20 mil soldados russos morreram este mês na ridícula guerra com a Ucrânia. A Rússia perdeu 112.500 soldados desde o início do ano. São muitas mortes desnecessárias! A Ucrânia, no entanto, também sofreu muito. Perdeu aproximadamente 8 mil soldados desde 1º de janeiro de 2025, e esse número não inclui os desaparecidos [...] Esta é uma guerra que nunca deveria ter acontecido — esta é a guerra de Biden, não de Trump. Estou aqui apenas para ver se consigo impedi-la!", escreveu.
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Dmitry Medvedev e Vladimir Putin em 2020 — Foto: Sputnik/Alexey Nikolsky/Kremlin/ via Reuters
A declaração de Medvedev sobre uma possível retaliação nuclear russa foi uma reação a outra mensagem publicada por Trump nas redes. Nela, o presidente dos Estados Unidos o criticava por ter dito que a proposta de tarifas contra compradores de petróleo russo era "um jogo de ultimatos" que aproximava os dois países de uma guerra.
"Digam a Medvedev, o ex-presidente fracassado da Rússia que acha que ainda é presidente, para tomar cuidado com suas palavras. Ele está entrando em um território muito perigoso!", escreveu Trump.
Medvedev respondeu horas depois, em seu canal no Telegram. Ele disse que Trump demonstrou estar nervoso e que isso é sinal de que a Rússia está "no caminho certo".
Desde o início da guerra na Ucrânia, Medvedev tem sido uma das vozes mais agressivas do Kremlin contra o Ocidente. Críticos o consideram irresponsável. Mas diplomatas dizem que seus discursos refletem parte do pensamento estratégico de Moscou.
Em relação ao presidente russo, Vladimir Putin, Trump tem se dito "decepcionado". Após defendê-lo no começo de seu mandato, desde que não conseguiu chegar ao prometido acordo de paz que desejava, o presidente dos EUA mudou o tom e, há três semanas, chegou a chamá-lo de "inútil".
fonte G1
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