Lula abre a 80ª Assembleia Geral da ONU defendendo multilateralismo e soberania em discurso diante de tensões com EUA

 


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) inaugurará nesta terça-feira (23), em Nova York, a 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas. O Brasil manterá a tradição, vigente desde 1955, de ser o primeiro país a discursar no evento, seguido pelos Estados Unidos. 

Essa será a décima vez que Lula assume o púlpito da ONU para abertura dos debates entre chefes de Estado. A expectativa é que o discurso aborde temas centrais como multilateralismo, soberania nacional, e cooperação internacional com foco em uma agenda progressista, que inclua direitos sociais e sustentabilidade. 

Contexto de tensão diplomática

A fala de Lula acontece num momento de forte tensão entre Brasília e Washington. Recentemente, os Estados Unidos tomaram medidas sancionatórias contra autoridades brasileiras, inclusive imposição de sanções baseadas na Lei Magnitsky, e restrições de vistos a pessoas próximas de ministros do Supremo Tribunal Federal. 

Autoridades esperam que o discurso de Lula reforce tais temas: defender soberania nacional e não intervenção, criticar tarifas e sanções econômicas impostas aos países em desenvolvimento, bem como clamar por reformas em organismos internacionais — especialmente no Conselho de Segurança da ONU. 



Principais autoridades que acompanharão o discurso

Lula estará acompanhado de uma comitiva ministerial composta por ministros chaves: Mauro Vieira (Relações Exteriores), Marina Silva (Meio Ambiente), Márcia Lopes (Mulheres), Jader Barbalho (Cidades), Sônia Guajajara (Povos Indígenas) e Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública). 

Há notícias de dificuldades na obtenção de vistos por parte de alguns membros da delegação brasileira, reflexo da tensão diplomática em curso. 

O que se espera ouvir

Os eixos previstos para o discurso de Lula incluem:

Defesa veemente do multilateralismo, enfatizando que grandes problemas globais — mudança climática, desigualdade, fome, pandemias — demandam ação conjunta;

Apelos por respeito à soberania nacional, com críticas implícitas a sanções econômicas e interferências externas em assuntos internos de países soberanos;

Preocupação com a justiça climática, especialmente antes da COP30, marcada para ocorrer em Belém (Pará) em novembro, o que deve pintar parte da pauta brasileira no evento;

Reivindicação de uma reforma no Conselho de Segurança da ONU, para que ele seja mais representativo, inclusive de países do Sul Global;

E possivelmente críticas às tarifas dos EUA e outras medidas econômicas que, no entendimento brasileiro, afetam desigualmente os países em desenvolvimento.


Relações Brasil-EUA e expectativas sobre encontro

Apesar de ambos discursarem seguidos na ordem da assembleia (Brasil primeiro, EUA depois), não há expectativa de encontro formal entre Lula e Donald Trump. Fontes diplomáticas afirmam que poderá haver apenas um cumprimento protocolar, caso coincidam nos bastidores, mas não há agenda de conversa prevista. 

A diplomacia brasileira parece preparar o terreno para usar esse primeiro discurso como sinal político importante, aproveitando a visibilidade internacional para reforçar críticas a intervenções e sanções, e para posicionar o Brasil como voz ativa em fóruns multilaterais. 

O discurso de Lula nesta abertura da 80ª Assembleia Geral da ONU promete marcar um momento de afirmação diplomática do Brasil em meio ao cenário de fricção com os Estados Unidos. A tradição de discursar primeiro reforça visibilidade, e a composição ministerial mostra que temas de direitos sociais, meio ambiente, mulheres, povos indígenas e justiça estarão presentes.

Resta acompanhar como será o tom — se mais conciliador ou mais combativo — e qual será a repercussão entre aliados internacionais. A plateia global estará de olho nas propostas de Lula para multilateralismo, clima, soberania e democracia, assim como no embate implícito com políticas unilaterais que elevam tensões diplomáticas.



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