O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abriu nesta terça-feira (23) a 80ª Sessão da Assembleia Geral da ONU com um discurso enfático em defesa da democracia, da paz e da soberania nacional. Diante de chefes de Estado e representantes dos 193 países-membros, Lula alertou que “atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando regra”, em referência à crescente “desordem internacional marcada por seguidas concessões à política do poder”.
Soberania e instituições brasileiras
Lula repudiou medidas externas que afetam o Brasil:
“Não há justificativa para as medidas unilaterais e arbitrárias contra nossas instituições e nossa economia.A agressão contra a independência do Poder Judiciário é inaceitável.”
O presidente criticou a “ingerência em assuntos internos” e afirmou que ela “conta com o auxílio de uma extrema direita subserviente e saudosa de antigas hegemonias”. Mencionando a recente condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro, Lula declarou que o processo foi “minucioso”, com “amplo direito de defesa”, e enviou “um recado a todos os candidatos a autocratas”: “Nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis.”
Democracia e combate à desigualdade
Para Lula, democracias sólidas vão além do ato eleitoral e exigem a redução de desigualdades e a garantia de direitos básicos como alimentação, trabalho, moradia, educação e saúde.
“A pobreza é tão inimiga da democracia quanto o extremismo”, destacou, comemorando que o Brasil voltou a sair do Mapa da Fome em 2025, segundo a FAO.
Ele defendeu menos gastos militares e mais recursos para o desenvolvimento, além de padrões globais de tributação que façam “os super-ricos pagarem mais impostos que os trabalhadores”.
Regulação do ambiente digital
O presidente também chamou atenção para o uso das plataformas digitais para disseminar ódio e desinformação:
“A internet não pode ser uma terra sem lei. Regular não é restringir a liberdade de expressão, é garantir que o que já é ilegal no mundo real seja tratado assim no ambiente virtual.”
Lula citou a nova lei brasileira para proteger crianças e adolescentes online e iniciativas para incentivar datacenters sustentáveis e uma governança multilateral da inteligência artificial.
Paz internacional e crises globais
O discurso abordou conflitos e tensões em diversas regiões:
- América Latina e Caribe: “Manter a região como zona de paz é nossa prioridade.”
- Venezuela e Haiti: defendeu diálogo e direito à estabilidade.
- Cuba: classificou como “inadmissível” a inclusão do país em listas de terrorismo.
- Ucrânia: afirmou que “não haverá solução militar” e elogiou iniciativas de mediação.
- Palestina: condenou os atentados do Hamas, mas disse que “nada justifica o genocídio em curso em Gaza”, denunciando “o uso desproporcional e ilegal da força” e “o mito da superioridade ética do Ocidente”.
Lula reforça que “a única guerra de que todos podem sair vencedores é a que travamos contra a fome e a pobreza”, destacando a Aliança Global contra a Fome lançada pelo Brasil no G20 e já apoiada por mais de 100 países.
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