Por Lucas Machado-ABRASEL
Formada por nascidos entre 1997 e 2012,
a geração Z tende a consumir menos álcool, buscar conveniência e exigir
experiências alinhadas ao bem-estar e propósito
A chegada da Geração Z ao centro do mercado
consumidor está provocando transformações profundas nos hábitos alimentares e
de socialização, com reflexos diretos no setor de bares e restaurantes. Formada
por jovens nascidos entre 1997 e 2012, essa geração cresceu em um ambiente digital,
altamente conectado, e com forte senso de identidade, propósito e autocuidado.
As mudanças nos padrões de consumo vão desde o aumento da demanda por bebidas
com pouco ou nenhum álcool até a valorização de experiências personalizadas e a
busca por conveniência no serviço.
De acordo com um levantamento realizado
pela Mind & Hearts, do grupo HSR Specialist Researchers, com 677 pessoas de
diferentes faixas etárias, 36% dos integrantes da Geração Z no Brasil
consomem álcool apenas uma vez por mês ou com menor frequência. O índice é
superior ao registrado entre os integrantes da Geração Y (32%) e da Geração X
(32%). Além disso, 88% dos jovens entre 18 e 25 anos estão dispostos a
reduzir ou abandonar o consumo de álcool, número também superior ao de 81%
observado na Geração Y e aos 85% da Geração X.
Menos álcool, mais consciência: o
crescimento do mercado de bebidas alternativas
Com isso, o mercado de bebidas também está
se adaptando. Segundo um estudo da MindMiners, apenas 45% dos jovens da
Geração Z no Brasil consomem bebidas alcoólicas, o menor índice desde 1962. O
relatório destaca que esses consumidores priorizam saúde física e mental,
clareza e autocontrole, o que está redefinindo o conceito de celebração. O
resultado é um impulso significativo no setor de bebidas não alcoólicas, que
deve movimentar US$ 3,8 trilhões até 2034, impulsionado por categorias
como mocktails, kombuchas e drinks funcionais.
Essa mudança também já é sentida pelos
estabelecimentos do setor. No Grafficca Bar, em Belo Horizonte, a
crescente procura por coquetéis
sem álcool motivou a ampliação do cardápio. “Muitos clientes
buscavam bebidas criativas e sofisticadas, similares aos coquetéis clássicos,
mas sem álcool. Por isso, desenvolvemos novas opções e adaptamos receitas já
existentes, garantindo que todos possam aproveitar a experiência”, conta Marilda
Ribeiro, proprietária do bar.
Para José Eduardo Camargo, líder de
Conteúdo e Inteligência da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes
(Abrasel), essa tendência abre oportunidades. “Os consumidores estão cada vez
mais atentos à qualidade do que consomem e buscam alternativas que proporcionem
prazer sem abrir mão do bem-estar. Nos EUA, há uma onda chamada Stealth
Health, ou ""saúde oculta”. Ela combina sabores tradicionais e
que trazem indulgência com algum elemento mais saudável para dar o conforto de
que o que se está consumindo faz bem à saúde”, explica.
Geração Z dita o ritmo: conveniência,
personalização e propósito
Mas o impacto da Geração Z no setor vai
além do cardápio. Uma pesquisa divulgada pela Ticket revelou que essa
geração é responsável por 51% dos pedidos de delivery realizados no Brasil.
Isso mostra uma clara preferência pela comodidade, com 46% dos jovens
preferindo a entrega ao invés da retirada no local ou drive-thru. A
praticidade e a economia de tempo se tornaram prioridades para esse público,
que está disposto a pagar mais para evitar deslocamentos.
O estudo também mostra que os fast foods
lideram entre os pedidos da Geração Z, seguidos por culinária brasileira,
lanchonetes, pizzarias e carnes. Já o maior gasto médio por tipo de culinária
foi registrado na comida japonesa, com R$ 84,80 por pedido, enquanto a
comida mineira apresentou o menor gasto médio, de R$ 49,59.
Além disso, os jovens da Geração Z
valorizam programas de fidelidade personalizados, demonstrando que
desejam mais do que simples recompensas. Eles buscam experiências sob medida,
que reflitam seus valores e interesses individuais. Nesse cenário, a confiança
e a reputação online dos estabelecimentos tornam-se fatores decisivos na
escolha de onde consumir.
São muito bem-informados e pesquisam
avaliações e indicações. Geralmente, não compram por impulso porque valorizam a
questão financeira, aponta o levantamento da Ticket. Por isso, investir em construir
uma presença digital forte é uma estratégia eficiente para atrair esse
público. O Instagram é a plataforma que mais influencia suas decisões de
consumo, mas o Google cresce como opção de busca de restaurantes.
Mesmo com poder de compra crescente, a
Geração Z segue em busca de promoções e bom custo-benefício. O estudo
indica que ofertas e descontos são cruciais na hora de decidir onde comer,
reforçando a importância de estratégias comerciais voltadas à retenção e à
atração desse grupo.
A reconfiguração de valores promovida pela
Geração Z já está moldando novos padrões de entretenimento, marketing e
experiência de marca. Cardápios, campanhas publicitárias e até a atmosfera
dos estabelecimentos precisam refletir esse novo olhar. Como resume o
relatório: “O futuro está nas experiências que valorizam presença, bem-estar e
propósito”.
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