O Brasil trata bem seus imigrantes? O imigrante brasileiro reclama quando é maltratado no exterior. Mas e no Brasil? A gente trata bem os imigrantes?
"Eu escutei uma vez de uma haitiana que diz assim: 'O Brasil recebe, mas não acolhe'. Porque acolher é muito mais do que só você deixar as pessoas entrarem", afirma Cristina dos Anjos, assessora nacional da Cáritas.
O Brasil tem mais de 2 milhões de estrangeiros vivendo no país. Um por cento da população. São pessoas principalmente vindas da Venezuela, Haiti e Bolívia. E que chegaram em diferentes ondas nos últimos anos, empurradas por desastres naturais ou crises econômicas e políticas.
"É um país que, do ponto de vista de regularização e documentação migratória, tem políticas bastante avançadas, protetivas, no sentido de pensar a regularização desses grupos, principalmente se forem grupos mais numerosos", diz João Jarochinski, professor de Relações Internacionais da UFRR.
O problema é que, na prática, a legislação migratória brasileira não é aplicada à plenitude. Há relatos de dificuldades, por exemplo, com a revalidação de diplomas dos imigrantes com formação superior.
"Por um lado, até se tem uma lei, mas por outro lado, essa implementação é muito difícil. O Brasil é um país racista, os brasileiros, nós brasileiros, já sofremos muito, né? Nós, brasileiros negros, sofremos muito nesse país, imagina os migrantes, né?", afirma Cristina dos Anjos.
Mas não estamos falando de "todos" os imigrantes. Para Cristina, aquele "olho torto" pesa mais sobre os caribenhos e africanos. E se forem pobres, pior. Um levantamento do Datafolha em 2023, elaborado a partir de mil entrevistas com brasileiros, mostrou o seguinte: para 83% das pessoas, o Brasil recebe bem migrantes de países ricos.
"E, obviamente, há aspectos do ponto de vista social que acabam reverberando em práticas de preconceito e xenofobia, que de certa forma a gente consegue caracterizar no âmbito brasileiro, principalmente para migrantes e refugiados pobres", explica João Jarochinski.
Em ondas migratórias do passado, em que chegaram alemães, italianos, japoneses, a xenofobia também era um sentimento presente.
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