Por Libia López
No Dia Mundial Contra o Tráfico de Pessoas, celebrado em 30 de julho, o alerta é urgente para uma realidade invisível que avança pelas fronteiras brasileiras. Migrantes vindos principalmente da Venezuela, Haiti, Cuba e Guiana chegam ao Brasil fugindo da crise humanitária e da pobreza extrema, mas acabam encontrando outro perigo: as redes de tráfico de pessoas, que exploram sua vulnerabilidade para trabalho forçado, servidão por dívida e até exploração sexual.
As rotas da vulnerabilidade
As fronteiras do Brasil com Venezuela, Guiana, Suriname, Bolívia, Peru, Colômbia e outros países tornam-se pontos sensíveis para a atuação de quadrilhas especializadas em tráfico humano. Pacaraima (RR), que recebe milhares de venezuelanos, é uma dessas portas de entrada onde traficantes se aproximam oferecendo ajuda com documentos, emprego e transporte. Com promessas falsas, conseguem cooptar vítimas que, na maioria das vezes, desconhecem seus direitos e têm dificuldade com a língua.
No Norte do país, o fluxo migratório de haitianos pelo Acre e Amazonas também preocupa: muitos chegam após longas viagens pela América Central, exaustos e sem recursos, tornando-se presas fáceis para redes criminosas.
Garimpo e fazendas: trabalho escravo moderno
Zonas de garimpo ilegal, sobretudo na Amazônia, são usadas para explorar migrantes em condições análogas à escravidão. Muitos são levados com a promessa de salário digno, mas acabam trabalhando sem contrato, vivendo em alojamentos precários, sofrendo violência física e psicológica. Há registros de migrantes que chegam a ficar meses sem receber, acumulando dívidas que os impedem de sair do local.
Fazendas isoladas, especialmente na fronteira com a Bolívia e Paraguai, também servem de cenário para exploração de mão de obra, onde trabalhadores são mantidos longe de qualquer fiscalização. A dimensão continental do Brasil dificulta o combate, favorecendo o aliciamento de migrantes para atividades ilegais.
Fronteiras abertas ao crime
As fronteiras do Brasil somam quase 17 mil quilômetros, passando por áreas de floresta densa, rios e regiões pouco policiadas. Esse cenário cria uma rota ideal para quadrilhas que atuam em rede, transportando pessoas entre países para diferentes formas de exploração. Em muitos casos, os migrantes entram por um país vizinho e são levados para outras regiões do Brasil, dificultando a identificação.
Além das rotas terrestres, há preocupação com os portos e aeroportos usados para o tráfico internacional, especialmente de mulheres e meninas destinadas à exploração sexual em centros urbanos.
A indiferença também é crime
A frase – “Tráfico de pessoas é crime. A indiferença também” – lembra que o silêncio da sociedade ajuda a perpetuar essa violência. Migrantes e refugiados em situação de risco precisam de apoio, informação sobre seus direitos e proteção das autoridades.
O número Disque 100 é um canal importante para denunciar casos de trabalho escravo, exploração sexual e tráfico de pessoas. No entanto, especialistas defendem que o combate ao tráfico exige políticas públicas específicas para migrantes, fiscalização constante em áreas vulneráveis e campanhas educativas nos idiomas de quem chega ao Brasil.
Um problema global, mas com rosto local
O tráfico de pessoas é um crime global, mas no Brasil tem rostos bem definidos: são homens, mulheres e até crianças vindos da Venezuela, Haiti, Cuba, Guiana e outros países que chegam buscando dignidade, mas encontram exploração.
Combater essa realidade exige mais do que ações pontuais: é preciso enxergar que cada vítima tem uma história e que nenhuma fronteira justifica a perda da liberdade e da dignidade humana.
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