Tarifaço de Trump acelera inovação: microempresas ganham chance global com e‑commerce

 


Por Libia López

Em meio a uma das maiores tensões diplomáticas das últimas décadas entre Brasil e Estados Unidos, micro e pequenas empresas brasileiras encontram na tecnologia e no comércio eletrônico uma saída para driblar as barreiras protecionistas. Nesta quarta-feira (30), durante o E‑Xport Meeting, evento promovido pela ApexBrasil em São Paulo, será oficializada uma parceria inédita com a plataforma global de e-commerce Shopee. O objetivo é fortalecer a presença de pequenos negócios brasileiros no mercado internacional, oferecendo treinamentos, suporte técnico e facilidades para exportar via internet.

Essa medida surge em resposta ao tarifaço anunciado pelo presidente Donald Trump, que determinou a aplicação de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto de 2025. O governo americano justificou a decisão como forma de pressionar o Brasil a rever suas políticas internas e processos judiciais que envolvem o ex-presidente Jair Bolsonaro, apontados por Trump como “perseguição política”. Desde então, a diplomacia brasileira tem tentado diálogo, mas com poucos resultados concretos.

Enquanto as negociações avançam lentamente, o Brasil age para minimizar os impactos econômicos do aumento das tarifas, que podem gerar prejuízos bilionários, especialmente para setores como o agro, bebidas, aeronáutica e manufaturados. Nesse cenário, a parceria com a Shopee representa não apenas um acordo comercial, mas um passo estratégico de adaptação a um mercado global cada vez mais digital.

E-commerce como ponte para o mundo

A Shopee já reúne mais de 3 milhões de vendedores brasileiros, mas a maioria atua exclusivamente no mercado interno. Com a nova iniciativa, esses empreendedores terão acesso a capacitação sobre exportação, marketing internacional, atendimento ao cliente estrangeiro, questões logísticas e certificações. O objetivo é permitir que produtos brasileiros — como calçados, moda praia, alimentos especiais, artesanato, cosméticos naturais e outros de alto valor agregado — alcancem diretamente consumidores em diversos países.

A digitalização abre portas especialmente para micro e pequenas empresas, que tradicionalmente têm dificuldades de arcar com custos de participação em feiras internacionais, abertura de filiais ou contratação de distribuidores no exterior. Com vendas online, podem enviar seus produtos diretamente ao consumidor final, aumentando margens de lucro e diminuindo a dependência de intermediários.

Crise diplomática e necessidade de diversificação

A decisão do governo Trump de elevar tarifas de importação de produtos brasileiros foi recebida no Brasil com perplexidade e críticas de diversos setores. Desde que foi anunciada, em junho de 2025, autoridades brasileiras tentam reverter a medida, argumentando que interfere na soberania nacional e prejudica produtores e trabalhadores dos dois países.

O presidente Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin realizaram encontros e ligações com representantes do comércio americano, buscando diálogo. Parlamentares brasileiros também se mobilizaram para construir pontes com congressistas dos EUA. Ainda assim, o clima permanece tenso e não há sinais concretos de recuo por parte do governo Trump.

Para especialistas, o episódio reforça uma lição que já vinha sendo discutida após crises anteriores: o Brasil não pode depender de apenas um ou dois grandes mercados. A diversificação geográfica das exportações é essencial para reduzir vulnerabilidades e garantir maior estabilidade econômica.

Impactos econômicos bilionários

Estudos de entidades setoriais estimam que o tarifaço americano pode representar perdas superiores a US$ 1 bilhão por ano para exportadores de carne bovina, suco de laranja, café, aço e aviões. Apenas o setor de citros calcula uma retração de quase 800 milhões de dólares anuais nas vendas externas, pois os Estados Unidos respondem por uma grande fatia das exportações brasileiras de suco.

No caso da indústria aeronáutica, empresas como a Embraer temem quedas expressivas nas encomendas, afetando a produção, manutenção de empregos e competitividade no mercado global.

Resposta brasileira: diplomacia e inovação

Diante do novo cenário, o Brasil não ficou apenas na defesa. Além das negociações diplomáticas, o governo federal estuda medidas emergenciais para ajudar empresas impactadas, como crédito subsidiado, novos acordos comerciais e apoio para buscar mercados alternativos.

A assinatura do acordo entre ApexBrasil e Shopee reforça a ideia de que é possível reagir de forma inovadora. Em vez de depender exclusivamente de grandes empresas exportadoras, o Brasil aposta agora na força de suas micro e pequenas empresas, que representam mais de 90% dos empreendimentos do país.

Com apoio técnico, treinamento e acesso a ferramentas digitais, esses pequenos negócios poderão atingir consumidores em regiões que ainda não são prioritárias nas exportações brasileiras, como Ásia, Oriente Médio, América Central e Europa Oriental.

Imagem do Brasil no mundo

Além dos impactos econômicos, a parceria também ajuda a melhorar a imagem do Brasil como produtor de qualidade e país inovador. Ao mostrar capacidade de adaptação e abertura para o comércio digital, o Brasil reforça sua reputação e atrai novos investimentos externos.

A medida também demonstra que, mesmo em meio a dificuldades diplomáticas, o país busca soluções construtivas, mantendo o compromisso com o comércio livre e justo.

Desafios pela frente

Apesar do otimismo, especialistas alertam que ainda há barreiras a vencer: infraestrutura logística deficiente, burocracia tributária, complexidade das exportações e necessidade de certificações específicas para atender mercados mais exigentes. No entanto, o comércio eletrônico representa um caminho mais rápido e acessível para superar parte dessas dificuldades.

A crise gerada pelo tarifaço de Trump mostrou a importância de diversificar mercados, investir em inovação e apoiar os pequenos negócios. O acordo entre a ApexBrasil e a Shopee transforma uma situação adversa em oportunidade: abre portas para milhares de empreendedores brasileiros se tornarem exportadores, vendendo diretamente para o mundo.

Num contexto global instável, onde decisões políticas podem mudar o rumo das relações comerciais de um dia para o outro, preparar pequenas empresas para exportar com autonomia digital pode ser o grande diferencial que garantirá ao Brasil não apenas resistir, mas crescer.




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