Roraima, estado mais ao norte do Brasil, tornou-se um dos principais destinos de migrantes em busca de novas oportunidades. Venezuelanos, haitianos, guianenses e cubanos formam a maioria dessa população que enfrenta um grande desafio: a dificuldade de acessar empregos formais regidos pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).
Sem empresas e indústrias suficientes para absorver a mão de obra, muitos acabam dependendo da informalidade. Nesse cenário, o empreendedorismo deixou de ser apenas uma escolha e se transformou em alternativa de sobrevivência e desenvolvimento.
Roraima em expansão com a chegada de migrantes
Nos últimos oito anos, Roraima viveu um crescimento acelerado em número de habitantes e em expansão territorial. A migração alterou a dinâmica local: mais famílias demandam moradia, serviços e empregos, o que aqueceu o mercado imobiliário e tornou o estado atrativo tanto para migrantes quanto para brasileiros vindos do interior.
Apesar desse crescimento, a economia de Roraima ainda se baseia principalmente no agronegócio, no comércio e no setor de serviços. A ausência de indústrias e empresas de grande porte limita a oferta de empregos formais, deixando muitos trabalhadores à margem da CLT.
Migrantes entre a formalidade e a sobrevivência
Para a maioria dos migrantes, conseguir um emprego formal com carteira assinada é uma meta distante. A validação de documentos, a barreira do idioma — no caso dos haitianos — e a falta de experiência reconhecida no Brasil dificultam a inserção no mercado.
“Muitos de nós temos estudos ou profissões em nossos países, mas aqui é difícil que sejam aceitos. Isso nos leva a buscar alternativas na venda de comida, no comércio ou como trabalhadores informais no agro”, relata María González, venezuelana que vive em Boa Vista desde 2019.
Diante disso, o empreendedorismo surge como saída. Restaurantes com culinária caribenha, barracas de artesanato, pequenas lojas de roupas e barbearias são exemplos de negócios criados por migrantes em Boa Vista.
O papel das comunidades indígenas
Além dos migrantes, as comunidades indígenas — brasileiras e estrangeiras — também enfrentam barreiras para acessar empregos formais. Por motivos culturais, muitos preferem manter modos de vida tradicionais, como a caça, a pesca e a agricultura de subsistência.
Entretanto, a pressão do crescimento urbano e a falta de empregos estáveis levaram parte dessa população a ingressar em atividades informais, como a venda de artesanato e alimentos típicos.
A necessidade de industrializar Roraima
O crescimento populacional e econômico de Roraima revela uma urgência: industrializar o estado. A dependência do comércio e da importação de produtos limita o desenvolvimento sustentável.
Roraima tem grande potencial agrícola e energético. Transformar essa capacidade em indústrias processadoras é essencial para consolidar um crescimento sólido e gerar empregos formais.
Indústrias capazes de produzir localmente poderiam reduzir a dependência de produtos vindos de outros estados e, ao mesmo tempo, abrir espaço para a formalização da mão de obra.
Empreendedorismo como motor de transformação
Enquanto a industrialização não avança, o empreendedorismo segue como principal motor econômico de muitos migrantes e moradores locais. Capacitação em gestão, acesso ao crédito e aprendizado de novas tecnologias são ferramentas essenciais para transformar pequenos negócios em empresas formais.
Organizações como a Pastoral dos Migrantes que ofecere cursos de Português, Fé e Alegria e o Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados (SJMR) já oferecem oficinas de capacitação em Boa Vista, voltadas para migrantes que desejam iniciar seus empreendimentos.
“Queremos que nossos negócios cresçam, que não dependamos apenas das vendas diárias na rua. Se aprendermos a nos organizar, podemos gerar empregos e contribuir para o desenvolvimento de Roraima”, afirma Jean Baptiste, haitiano que abriu um pequeno posto de comida típica.
Perspectivas para o futuro
Roraima está em um ponto decisivo de sua história recente. O fluxo migratório não dá sinais de diminuir, e a diversidade cultural já é parte da identidade do estado.
Para que esse crescimento seja sustentável, será necessário:
- Investir na criação de indústrias e empresas locais.
- Apoiar o empreendedorismo com capacitação e crédito acessível.
- Promover políticas públicas de inserção formal para migrantes e indígenas.
- Incentivar a produção local em vez da simples revenda.
Com essas medidas, Roraima poderá transformar sua realidade e oferecer prosperidade tanto para seus moradores nativos quanto para os que chegaram em busca de um novo começo.
Por Libia López
0 Comentários