O TERREMOTO DAS MIGRAÇÕES

 


Pe. Alfredo J. Gonçalves

Acompanhamos perplexos uma escalada mundial da violência. Violência intra e intercontinental que se reflete seja nos governos e formas de oposição, seja nos governos locais. Tampouco ficam imunes as mais diversas instâncias e instituições da sociedade. Semelhante avanço da violência vem mexendo de maneira convulsiva com os “formigueiros humanos”. Com efeito, o modus vivendi de comunidades originárias, de povos, nações e culturas veem sendo fortemente sacudidos ao redor do planeta. Resultado disso é a dispersão dos migrantes, tais como aves de arribação. A chamada transição paradigmática, de que tanto se tem falado, move as placas tectônicas da política econômica em termos nacionais, regionais e internacionais. Inegável que esse movimento subterrâneo provoca terremotos e tsunamis que, novamente, devastam os “formigueiros humanos”, colocando em fuga as formigas, aos milhares e milhões.

O modo de vida e a identidade de grupos inteiros são abalados desde a raiz, o que compromete as bases, os valores e os fundamentos tradicionalmente positivos. Migrantes isolados e/ou com suas famílias cruzam e recruzam fronteiras. Com grande dificuldade, atravessam mares, desertos e florestas para bater às portas de territórios diferentes. Chegam, em geral, cansados e abatidos, feridos e fragmentados. Pessoas e famílias se desfiguram e se desintegram pelo caminho, às vezes para não mais se encontrarem na tão sonhada e ansiada reunificação. As “formigas” dificilmente têm a possibilidade de retornar ao formigueiro (abandonado às pressas no caso dos refugiados), para recriar o modus vivendi de seus antepassados. Milhões e milhões de pessoas vagueiam de cá para lá e de lá para cá, na vã tentativa de encontrar um refúgio seguro. Um solo a que se possa dar o nome de pátria parece cada vez mais distante.

Os abalos sísmicos, porém, tendem a desencadear tragédias climáticas sempre mais extremas e catastróficas. Novos formigueiros são abalados e desmantelados. Novas correntes migratórias se põem em marcha. Cresce progressivamente o número de pessoas sem raiz, sem rumo e sem horizonte. Os processos migratórios não se deixam classificar atualmente por uma origem e destino mais ou menos predeterminada, como ocorreu nas chamadas migrações históricas. Enquanto a origem segue sendo a terra natal, evidentemente, o destino se revela cada vez mais incerto, inseguro e inquietante. Nos diais de hoje, prevalecem, ao invés, a indignação e a impotência. Por toda parte. Multiplicam-se os adjetivos e expressões precedidos pelo prefixo negativo “in”, equivalente a um “não”. Resta uma certa esperança de que quando esse prefixo se acumula, dos subterrâneos emerge dialeticamente um “sim”, de acordo com o pensamento filosófico de Hegel.

Do ponto de vista das forças de esquerda, esse novo “sim” consiste em um tremendo e gigantesco “não”. O efeito positivo do que podemos chamar mundo moderno ou modernidade reveste-se de uma marca registrada cunhada pela razão, a ciência e a tecnologia, bem como pelo progresso e a democracia. Neste momento de mudança de época (não apenas época de mudanças), o que resulta da dialética hegeliana representa um “sim” com sabor amargo de “não”. Consiste numa tentativa da extrema direita em usar os canais, instrumentos e mecanismos democráticos para instalar um autoritarismo populista que parecia morto e definitivamente enterrado. Não seria exagero falar de um imperialismo da economia globalizada. Imperialismo de mercado e de poder, contemporaneamente centrífugo e centrípeto. Centrífugo quanto à dispersão das unidades de produção e ao consumo generalizado, centrípeto no que diz respeito a tomada de decisões e à formação de megafusões e conglomerados hegemônicos para as fatias mais rentáveis do processo de produção, como petróleo, telecomunicações, aviação, metais preciosos, entre outras.

De tal maneira que, enquanto as nações mais poderosas ensaiam atritos, rivalidades e até mesmo conflitos bélicos (tendo o cuidado de exportar a guerra aberta para os países periféricos), globalmente o mercado se apresenta muito bem articulado. Exemplo: ao mesmo tempo que, do ponto de vista político, se verifica uma disputa cerrada pela hegemonia política e econômica planetária, desde o ponto de vista econômico, Estados Unidos e China seguem com seus acordos comerciais através desses oligopólios de empresas transnacionais. Numa expressão apocalíptica, semelhante imperialismo de mercado total se converte em uma espécie de dragão de sete cabeças (coincidência com o G7?), onde qualquer uma delas pode assumir o controle global. O combate a essa besta fera passa, simultaneamente, por ações locais e por articulações globais. O desafio gigantesco é justamente equilibrar umas e outras.


Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs, assessor do SPM – São Paulo, 07/11/2025






Nossas Redes sociais:

Siguenos: https://www.instagram.com/radioestrelinha/

Nosso grupo https://chat.whatsapp.com/DFdZ358E661EqsimwnxexY 

Nosso canal https://whatsapp.com/channel/0029VakaQZWL2AU4EP9gSN1s

Tik Tok  https://www.tiktok.com/@estrelinhaestereo

Youtube https://www.youtube.com/@radioestrelinhaestereo6258

Grupo Facebook https://www.facebook.com/groups/797514142416773


0 Comentários